2012-05-16

Intenção TELL

O nome TELL surgiu da lenda de Guilherme Tell, famoso arqueiro, que foi obrigado a demonstrar a sua perícia e arte acertando com uma flecha numa maçã colocada na cabeça do seu próprio filho.
Aos criadores desafiados foi efectuada uma proposta equivalente: Tens alguma coisa para dizer no escuro?
A intenção do projecto TELL, criado em 2008, é a valorização do acto de criação. A condição precária da maior parte dos artistas e a ideia feita (infelizmente negativa) da criação artística em Portugal, esteve na origem deste dispositivo atractivo simultaneamente para público e para criadores, fracturante com a imagem-norma da arte, uma forma que questiona a fruição/utilização das criações artísticas. O elemento-obstáculo-desafio perturbante é simples: elimina-se a visão, a luz, tudo fica às escuras.

TELL é, no concreto e por definição, um festival de performances (6 por noite) de curta duração no escuro, um jogo com obstáculo pré-definido e igual para todos, que expõe a variedade infindável de soluções e formas de `jogar´, de `ilusionar´. Em cada sessão é possível dança contemporânea, jazz, música ligeira, artes plásticas, teatro, literatura… Mais do que áreas ou disciplinas artísticas teremos cruzamentos, teste de limites, experiências e experimentação.
Desde 2008, que o projecto tem amadurecido e afinado a sua intenção, consolidado a sua eficácia. Pretende-se que o TELL seja um projecto sempre em construção, mutável e que recolha inputs dos criadores, dos técnicos e do público. A eficácia, a atracção, a riqueza inesgotada de possibilidades, são comprovadas pelas edições já realizadas. O lado de convite ao `abismo´ que o dispositivo proporciona é um estímulo para o criador, e um desafio à disponibilidade e empatia do público para com o artista, que ele sabe estar retirado da sua `zona de conforto´, numa situação não privilegiada, frágil. A falta da componente visual converte o espectáculo numa experiência de concentração dos restantes sentidos que lhe confere uma realidade nova partilhada por artista e público.
Assim, o TELL além de performance é uma experiência de vida, um `peep show´ sem imagem.


2010-10-30


3 Nov | Quarta | 22h | Passos Manuel  
às escuras


CLÁUDIA JARDIM
RUI EFFE
INÊS VICENTE
JOÃO GARCIA MIGUEL 
FLÁVIA GUSMÃO
REGINA GUIMARÃES
INÊS MENESES
ANA MORAES

2010-09-25

                      E ainda :
Manuel d´Olivares, Helder Maia, Teresa Joel & Teodoro, Militão, 
Eime, Acácio Carvalho e Rui Effe 


...e no quadro da estação de Metro do Marquês
alunos do curso de Artes Visuais / Externato Ribadouro:
Ana Fernandes Mafalda Basto Maria João Dias Miguel Rebelo 
Sara Coutinho Mariana Oliveira José Eça de Queirós Bruno Sousa
Maria Loureiro Miguel Evangelho Rita Pereira Paula Ramos
 Helena Almeida Marta Campos Rita Ferreira Daniela Amorim

2010-09-07

Intenção TELL

Fazendo uma breve reflexão sobre a história recente da cultura e da arte na cidade do Porto, não podemos deixar de referir a importância que a iniciativa Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura teve na sua dinamização, quer pela variedade e excelência dos projectos desenvolvidos ao nível da oferta artistica e cultural, quer pela forma entusiasta e participativa com que o público respondeu.
No entanto, desde essa data, a atitude do executivo da Câmara Municipal do Porto tem sido de desvalorização do trabalho feito ao longo de vários anos, o que tem produzido consequências nefastas e já visiveis a vários níveis.
Para ilustrar esta realidade, basta-nos referir que o anterior Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto foi transformado em Pelouro do Lazer, Inovação e Turismo, que tem claramente valências muito diversas das do anterior pelouro e que não respondem às ambições de um público que ainda tem memória da programação do Porto 2001- Capital Europeia da Cultura. Além disso, constatámos que a cidade do Porto não possui uma Agenda Cultural, apenas publica uma agenda trimestral com informações sobre ‘eventos’ que ocorrem na área do Grande Porto.
Apesar de a cidade continuar fervilhante de criatividade, nomeadamente porque o ensino artístico no Porto é uma realidade, quer ao nível do ensino profissional, quer ao nível do ensino superior, sendo centenas os jovens com formação em teatro, música, dança, artes plásticas, fotografia, cinema e audiovisuais.
Assim, os projectos artísticos florescem, fruto da acção de uma grande quantidade de jovens, formados nas mais diversas áreas artísticas, que não se resignam, nem se deixam abater pelas crescentes dificuldades com que se vão deparando, nomeadamente a falta de empenho do poder local, que causa o menosprezo e o desrespeito pela arte enquanto motor de mudança, de crescimento, de desenvolvimento social, de auto-estima individual e colectiva e de afirmação do território. O potencial artístico é forte mas está abandonado, pelo que as inúmeras actividades acontecem, fruto da pura vontade de fazer e de apresentar, mas organizadas dentro do um circuito fechado, paralelo e alternativo ao circuito comercial, que vai progressivamente perdendo público na medida em que os espectáculos têm lugar em espaços alternativos, não convencionais e, sobretudo, com pouca divulgação e com orçamentos reduzidos ou inexistentes como se o acto de criação fosse um acto ilegal e subversivo.
Podemos afirmar com segurança que embora a arte seja estigmatizada na segunda cidade do país, tem existido um espírito de resistência por parte da cidade e dos profissionais da área.
A par deste panorama e, em parte, por ele causado,assistimos à diminuição do valor da função do artista e à desvalorização do acto de criacção como parte integrante da vida, dando desta forma enfase à ideia simplista de que o artista é um subsidiodependente.
É neste contexto, acompanhando o sentir de muitos dos criativos da cidade, que nos levantamos uma série de questões: Qual é o valor do artista? Qual é a sua validade numa sociedade em crise? O que é que o define? A obra que executa ou a consequência da sua obra?
Discutiu-se também a questão da sobrevivência e a interrogação era sobre o direito do artista em viver do seu trabalho e sobre o direito do público a usufruir de diferentes propostas artísticas sem a censura do “lucro”. Surgem as questões: Os subsídios governamentais devem servir para permitir a criação do artista ou o usufruto por parte do público? A quem se destinam? Aos artistas, como pagamento de um trabalho que não pode viver apenas de receitas de bilheteira ou da venda de objectos que criam? À obra artística, por não ser mensurável ou sujeita a tabelas/tipo com o seu valor? Ao público, que não pode suportar, individualmente, os custos de uma criação artística, nomeadamente quando se trata de artes performativas, que pela sua dimensão e quantidade de intervenientes tem custos de produção elevadíssimos?
Mas afinal, quanto vale o artista? Há quem defenda que o artista vale tanto quanto o que consegue obter em patrocínios. No dizer do público, o artista vale tanto quanto o preço do bilhete do espectáculo a que quer assistir ou da peça de arte que quer adquirir. Nós discordamos desta mercantilização das artes e dos seus criadores, sendo que a última abordagem nos parece mais pertinente, na medida em que é à obra e não ao artista que é atribuido um valor comercial.
A edição Zero do projecto multidisciplinar ‘Tell – 1 artista = 1euro’ surgiu no Porto em 2008. Nessa edição, centrámos a nossa atenção na obra artística em si.
Para esta experiência, realizada quase a a custo zero, conseguimos reunir apoios de muitas entidades como a Metro do Porto, a DREN, o Cinema Passos Manuel, tendo também conseguido obter pequenos apoios financeiros das empresas DST e Diageo. Contámos também com a participação em massa de artistas de áreas diversas e uma atenção que superou todas as nossas expectativas por parte da comunicação social. Estes apoios, finaceiros, de divulgação, e sobretudo de adesão do público demonstram bem a abrangência destas questões. Os artistas, corajosos e generosos, aceitaram massivamente este desafio.
Tomando como referência o obscurantismo das ideias sobre política cultural que se abate sobre a cidade e as trevas simbólicas que sobre ela caiem, lançamos um desafio aos artistas: Tens alguma coisa para dizer no escuro? Na realidade foram dois desafios lançados em simultâneo, porque o público também é desafiado a assistir às escuras, a deixar a sua habitual e confortável posição de espectador semi-passivo, que sabe com o que pode contar, para o colocar em confronto com a escuridão – sem luz, com medos, sem saber em que tipo de espéctaculo o convidámos a participar. É este o contexto em que pode usufruir da obra artística. Neste projecto, também ele é incitado a adoptar uma postura diferenciada.
Este desafio, formalmente igual para todos, é discrepante no grau de dificuldade sentida pelos criadores, na medida em que os artistas convidados desenvolvem as suas obras em disciplinas diferenciadas, direccionadas para a estimulação de sentidos especificos. Se é inegável que é comum a dificuldade sentida pela perda do sentido da visão, também não se pode refutar que as consequências desta condicionante serão diferentes para um músico ou para um artista plástico. Curiosamente, todos foram identicamente desafiados e todos encontraram respostas.
Para a Edição Um do projecto ‘Tell – 1 artista = 1 euro’, as nossas ambições são mais alargadas. Pretendemos oferecer um suporte real de apoio à produção, uma divulgação criativa e consequente, e aos artistas toda a logística que envolve o projecto de forma a conseguir fazer espectáculos com uma qualidade óptima.
Sentimos a necessidade de mostrar a um público mais desatento e com menos hábitos de participação e fruição de arte e cultura, que a criação está a acontecer. Para isso, propomo-nos a utilizar meios de divulgação originais, que despertem curiosidade e provoquem inquietações e com um maior poder de alcance. A título de exemplo, uma das propostas de divulgação que nos propomos realizar pretende que os códigos da criação sejam revelados através da realização em directo de intervenções plásticas em antigos quadros negros escolares, feitas por artistas em espaços frequentados por muita gente. Desta forma, é revelado o valor da criatividade, como se se tratasse de uma atracção mágica. Apesar de em pequena escala, é feito um trabalho de recuperação de públicos “perdidos” desde 2001, abrindo-se espaço para que a arte reconquiste o seu lugar na cidade.
Neste projecto pluridisciplinar, criamos um espaço de encontro entre profissionais das áreas artísticas, educativas e das ciências sociais, trazemos à cidade artistas de outros pontos do país para participar, reagindo com o escuro e juntamos artistas consagrados com jovens artistas em início de carreira. Por estas razões, este projecto tem possibilidade infindáveis, abarca todas as áreas artisticas e acolhe todos os artistas, com os seus múltiplos discursos, propostas, escolas, técnicas, etc.
Consideramos que este projecto tem todas as condições para crescer, no e com o Porto, tendo neste momento um carácter mais amplo do que o local, na medida em que nele participam artistas de todo o país, podendo futuramente adquirir um carácter internacional.
Este é um projecto para esta cidade, um projecto de artistas e um projecto para os vários públicos, com intenção de se tornar um festival/desafio, com edições regulares, que se destaque pelo seu propósito, pela sua grande capacidade de sedução e pelas infindáveis possibilidades de criar.

(in candidatura do projecto aos apoios pontuais da DGArtes/Ministério da Cultura)